sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Só mais uma conversa de bar


Sentada ao meu lado, segurando um cigarro na mão esquerda, olhando o movimento da rua, você divagava sobre a vida. Sua vida. A vida dos outros sempre lhe interessou em menor grau.

Olhou poucas vezes nos meus olhos, enquanto atualizávamos os assuntos banais dos últimos acontecimentos de nossas vidas, uma vez que estamos tão distante.

Cheguei a me perguntar se alguma vez você já esteve próxima de mim.

Deve ter havido em algum lugar do nosso passado, aquele borbulhar da amizade que nos permite nos chamarmos de amiga até hoje. Um abraço, uma viagem, uma festa, um momento difícil, não sei ao certo.

Sempre achei que nos completávamos por sermos tão diferentes. Acreditava que os opostos se atraem eu acho. Nossas semelhanças tinham muito mais a ver com a dança ou com o mar.

Não me lembro dos seus movimentos ao meu encontro. Agora já não sei se não lembro porque foram muito poucos, ou se de fato eles não existiram. Nunca fui de demonstrar meus sentimentos mais profundos em forma de toque, e não lembro quantas vezes eu disse que te amava.

Sentada ao meu lado, eu não a via mais como éramos antes, e não via mais um futuro pra nós. Achava que com seu despertar espiritual, mesmo que ainda submerso entre o véu da ilusão, essa experiência nos aproximaria, mas me enganei.

Talvez sua verdade ainda esteja muito distante da minha. Não sei se o que de fato te incomoda é meu humor cítrico, ou meus comentários fora de hora. Não sei se você se irrita com o momento inoportuno do comentário, ou com a sinceridade do conteúdo. Às vezes eu acho que o que você quer é que as pessoas concordem com você. Mesmo que você esteja apenas dissertando sobre o que um terceiro pode pensar sobre determinado assunto, você espera uma aceitação sobre seu ponto de vista, ou a atenção do ouvinte como se o assunto fosse de mera importância.

Talvez você esteja acostumada com as rodas femininas em que o assunto é sempre homem, e já não se lembra mais como era falar sobre a religião, sobre a terra e o céu, sobre os valores morais da humanidade, ou qualquer coisa que nos faça pensar em algo além do óbvio.

Quantas vezes eu te vi repetindo as mesmas historias? Cada uma eu ouvia no mínimo três vezes, porque você sempre fez questão de repetir tudo exatamente igual para cada pessoa que você encontrava no caminho. Eu já tinha decorado as pausas e as interjeições. Enquanto outras de suas, ou nossas amigas, se divertiam, eu me entediava sozinha dando um sorriso forçado pra não te magoar.

Sua mania de querer ajudar os que não querem sua ajuda me tira um pouco do sério. Sua capacidade de só arrumar namorados problemáticos me intriga.
Mas sabe o que mais me incomoda mesmo?

Além do obvio assunto no qual nunca tocamos? Me incomoda o fato de eu saber, que no fundo, no fundo mesmo, você nunca deu a importância pra mim, quanto eu sempre dei a você.

Ali mesmo naquele lugar, observando a fumaça do seu cigarro, eu esperei que você entendesse o quanto eu estava magoada, mas você estava muito preocupada consigo mesmo, como poderia olhar pra mim?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Parabéns pra mim!!


Hoje faz um ano!
Um ano inteiro que eu parei de fumar.
Uma jornada que confesso não foi la muito animada, nem muito divertida... Me lembro de ter comentado aqui mesmo, o quanto eu gostava do meu companheiro amigo de todas as horas...

Enfim, um ano. Parece que foi ontem que eu comprei aquele maço novinho de marlboro light, descasquei a embalagem de plastico com o cuidade de não rasgar, abri a caixinha, tirei o alumínio, e puxei o primeiro cigarro.

Parece que foi ontem que eu carregava esqueiros, e os via sumir repentinamente, ou acabarem num momento critico... as vezes eu tinha um roxo mas chegava em casa com outro azul, as vezes eu roubava dos outros sem querer claro, e as vezes o roubavam de mim.

Parece que foi ontem que a cada motel que eu ia, a cada restaurante, a cada hotel, balada, enfim, eu tinha que trazer um fósforo personalizado. Até hoje ainda encontro uns por ai....

Um ano!

Não posso porém dizer que foram 365 dias ininterruptos sem fumar porque eu tive uma recaída. Tive mesmo confesso.

Aos 9 meses, um parto! Eu havia dicutido com uma pessoa amada, parei numa adega, comprei 2 garrafas de vinho branco lambrusco, e fui pra casa com a certeza de que aquele dia eu iria fumar.

Não comprei um maço porque sabia que minha irmã estaria em casa e eu poderia "filar" uns dela. Comprar seria muita tentação naquele momento de fragilidade.

2 garrafas como se eu fosse capaz de toma-las. Ai ai, quando eu parei de fumar, parei de beber, e de sair também, porque não é fácil. Mas la estava eu com uma taça na mão, um cigarro na outra, e pronta pra acende-lo quando minha irmã interrompe.

- Onde você pegou esse cigarro? Você não vai fumar vai?
- Ahh vou. E se quiser, pode sentar aqui comigo, e me fornecer mais alguns em troca de vinho...

Foi assim conversando com minha irmã, aos 9 meses de abstinência que fumei 3 cigarros, tomei 3 taças de vinho e cheguei ai sem aguentar mais.

Queria continuar bebendo, queria continuar fumando, mas não deu, não deu mesmo, tive ate que deixar um pouquinho do vinho da taça e apagar o cigarro bem antes do filtro porque meu corpo não gostou muito não.

Ressaca moral no dia seguinte. Um cheiro horrivel que tive que tomar banho, incluindo lavar os cabelos antes de dormir, o que acabou com a graça do vinho também, enfim....

Se eu quisesse voltar a fumar, seria tão dificil quanto foi parar.

Pra mim os piores meses foram a partir do oitavo. No décimo mes, tentei de novo, pra não dizerem que nunca é tarde. Dei um trago, e disperdicei um cigarro de um fumante por nada.

Cheguei a conclusão de que parei mesmo.

Para aqueles que dizem: Não vale, você tem que zerar o dia que fumou no nono mês, eu retruco: zera você e não me enche o saco, continuo contando e o problema é meu.

Então hoje, dedico essas palavras ao meu companheiro das antigas, dando uma volta olímpica comemoro hoje UM ANO SEM CIGARRO!!!

Viva!!!!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Pegando Fogo

E queima-lhe as mãos
Presas acorrentadas
Como brasa, incandescente
Suspiros quentes de um calor sem fim
Queima-lhe o tronco,
Subia-lhe o fogo
Estalos da cor laranja e vermelho carmim
Fogueira na alma latente
Pisava em carvão
Fumaça no corpo que esfarelava no chão
Gritava seu nome que de longe ouviam
Queimava-lhe as roupas
Que rapidamente despiam
Corpos acesos
Os céus todos negros
Suor em fervor de água borbulhante
Respiração ofegante
De inferno constante que habitava em mim.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Que lei é essa?

Eu estou tão cansada das pessoas julgarem umas as outras, julgarem o trabalho dos outros. E mais uma vez estava eu, frente a uma pessoa que julgava despropositadamente o filme “The secret”. Ok, cada um pode ter a opinião que quiser, sobre qualquer coisa, desde gostei ou não gostei até as cores escolhidas pela arte na locação interna, whatever! Mas o que me incomoda, é a propriedade com que julgamos uns aos outros, como se fossemos tão sábios que o pensamento do outro não passasse apenas do nosso primeiro rascunho da vida, aos 2 anos de idade.

“O filme é ridículo, só fala de querer ter uma mansão, um carro novo, só colar uma foto na parede” ... Peraí, você esta criticando o que?

O cara ter ambição de um dia poder ter condições de comprar uma mansão se quiser?

Qual o problema se o desejo de uma pessoa é morar numa mansão? Que pais que não querem dar conforto a seus filhos? Que pai que não desejaria ter dinheiro pra não só pagar as contas, mas tirar férias com a família? Quem não quer poder ter uma condição melhor, uma melhor qualidade de vida? Poder ter um carro, nem que seja só pra passeios no final de semana? Pagar boas escolas?

A questão do filme não é o desejo de cada um, e sim o que fazer para consegui-los. E quem não quer melhorar de vida? Quem não gostaria de ter abundancia pra poder fazer só aquilo que gosta? As pessoas querem saber como ganhar dinheiro, como receber cheques pelo correio ao invés de multas, querem saber como comprar uma casa melhor, como salvar o casamento, enfim... as pessoas não tão afim de assistir um filme sobre como alcançar o estado de paz de espírito, como ter saúde perfeita, como adquirir paciência através da experiência. Se fizessem um filme sobre esses desejos meia dúzia de gato pingado ia assistir e olhe la!

Vai criticar o que? A lei de atração? Testa! Observa então pra ver se o que acontece na sua vida não é uma conseqüência do seu pensamento, das suas escolhas....

Só porque alguém conseguiu a proeza de condensar o que os ensinamentos milenares orientais e a metafísica já diz há tempos, não quer dizer que seja ruim.

Na espiritualidade já se ensinava que tudo na vida ocorre em trindades, e a lei da atração aqui aparece como “pensamento, palavra, ação”...

Nos rituais de Feng Shui, sempre há o elemento pensamento e visualização da vida que o individuo deseja ter, em cada área do baguá. E quantos gênios já não se aproveitaram disso?

Enfim, tanto já se sabe sobre o assunto, o que a Rhonda Byrne conseguiu fazer foi alcançar a massa e desvendar como é possível se ter o que se deseja. Pouco importa se você deseja uma casa na praia ou a cura de uma doença. Pouco importa se você vai colar uma foto do corpo perfeito na sua geladeira a fim de emagrecer, ou se você vai desenhar um quadro do que você quer, não importa! O que importa é que a ferramenta esta ali, e somente aqueles que compreendem o efeito do pensamento e das emoções é que estarão aptos para viver melhor, os que não compreendem julgam o valor do DVD, julgam a direção, julgam os desejos, julgam a mansão, julgam uns aos outros, hipócritas que são!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Trânsito x metrô

De novo não. Já dizia Paulo Coelho que quem conhece a felicidade não aceita humildamente a tristeza. Com razão. Quem anda de carro, não aceita facilmente ter de andar de metrô.

Eu tenho certeza que aqueles que inventaram a lei de rodizio, possuem mais de um veiculo, e ainda motorista, porque já imaginou o prefeito andando de metrô?

Não ha nada de glamoroso em andar de metrô nos horários de pico... Não é bonito como em Londres, que os acentos possuem estofados coloridos, ha espaço para sentar ou ficar em pé. Não tem empurra empurra, e a maioria das pessoas lêem livros e jornais, existem várias estações onde é possível fazer baldiações, enfim, glamour.

Aqui em São Paulo, não.

- Isso porque eu coloquei só folha no prato, você imagina se tivesse colocado mais carne? Se deu R$16,00 teria dado R$25,00
- Um absurdo pagar isso num almoço.
- Comprei alcatra esses dias, mas tive que pedir por moço tirar um pouco, trinta e cinco reais? Ahh não tem condições.
- Não tem mesmo.

- Segura direito menina, se você cair eu não vou socorrer já falei.

Sem contar um infeliz que resolveu colocar as músicas de sua mais nova aquisição, um celular que toca mp3, em alto e bom som:

"Porque eu já to cansado, de ouvir as reclamações dos homens. Não existe mais mulher fiel. É marido que descobre que foi traido, é marido que da porrada no amante, é amante que foge do marido... isso não da não. Eu quero ouvir as esposas: ahhhhhh Eu quero ouvir as amantes: aaahhh Então pega......" e começa um funk do sei lá o que...

Ah sinceramente ninguém merece tudo isso logo cedo!

Fala o quiser, sou fresca mesmo, mas ainda prefiro mil vezes pegar transito com meu carro com ar condicionado ligado, e vidros fechados escutando um cd de Amy Whinehouse, na minha mais profunda solidão, a ter que dividir o espaço indivisivel do metrô e de quebra aturar um funk no último volume... afffeee!!! Sem essa!

Começo a rezar pra que a cidade não trave não!!! Não trava, não trava, não trava não!!!! rsrsrs

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Velha Infância

Existe algo de tão profundo nos espaços de minhas memórias que de fato já não me lembro. Procuro restabelecer o contato com um cômodo, por exemplo, de uma casa de infância, mas ele já não esta mais ali. Vejo a sala, os espelhos, a vitrola na prateleira de vidro, o banheiro de azulejos amarelos e marrons, mas não vejo o cômodo.

Não me lembro da cama da minha mãe e nem da colcha que ela usava. Pouco me lembro de minha própria cama, no quarto que dividia com minha irmã. Lembro da colcha vermelha de coraçõezinhos brancos, mas não por mim, mas porque ela me fez lembrar. Sei que existia um armário branco, mas somente porque vi em fotos.

Na verdade, nem sei se são minhas lembranças ou lembranças que re-signifiquei através de fotos que vi. Nos mudamos quando eu estava com 8 anos eu acho, mas minha irmã jura que eu tinha 6. Seis é melhor pra mim porque posso me cobrar menos por não me lembrar da antiga casa...

Depois dessa mudança a única outra casa que morei foi do intercambio em Londres. Fora isso a casa foi sempre à mesma. O quarto que era meu e da minha irmã hoje é só meu. Já teve papeis de paredes de varias cores e desenhos, já mudei a cor do armário, já tirei portas, já tive escrivaninha, mas na essência... é sempre o mesmo quarto.

Sei que passei outra parte da infância aqui, me lembro melhor, mas quando me perguntam onde era o meu canto, eu simplesmente não sei. Acho que nunca tive um. Não me lembro de ficar embaixo da cama, nem de me cobrir com ursinhos de pelúcia. Não me lembro do canto onde ficava minha irmã, nem se ela também não tinha um canto.

A verdade é que sempre tive muito espaço, espaço dentro e fora de casa, e não me lembro de precisar de canto nenhum, porque era tudo muito grande e espaçoso e eu gostava disso.

Me acostumei com espaço, com privacidade, com muito oxigênio, tínhamos ate um parquinho só pra nós... Sou mimada, espaçosa, e gosto de ficar sozinha... paciência!